Sobre tolerância e conivência.
É, pois, um dever de todos os espíritas sinceros e devotados repudiarem e desaprovar abertamente, em seu nome, os abusos de todo gênero que pudessem comprometê-la (Doutrina Espírita), a fim de não lhes assumir a responsabilidade. Pactuar com os abusos seria acumpliciar-se com eles e fornecer armas aos adversários.
Allan Kardec, Revista Espírita, jun/1865 – Nova tática dos adversários do Espiritismo.
Se as imperfeições de uma pessoa só a ela prejudicam, nenhuma utilidade haverá em divulgá-las. Se, porém, podem acarretar prejuízo a terceiros, deve-se atender de preferência ao interesse do maior número. Segundo as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode constituir um dever, pois mais vale cair um homem do que virem muitos a serem suas vítimas. Em tal caso, deve-se pesar a soma das vantagens e dos inconvenientes.
São Luís (Paris, 1860). O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. X, item 21.
Fala-se muito em caridade, mas essa caridade mal compreendida torna-se ferramenta para desculpas para praticas de situações injustas ou abusivas predominando o silêncio e sob o pretexto da indulgência ou tolerância uma palavra franca e amiga deixa de ser proferida e uma oportunidade de esclarecimento e auxílio ao próximo é desperdiçada. A inação faz com que o curso dos acontecimentos gere resultados muitas vezes indesejáveis e todo aquele que teve a opção de corrigir ou alertar sobre os equívocos praticados, mas optou pela omissão, também é responsável pelas respectivas consequências. Neste ponto me enquadro.
O comprometimento do espírita é, portanto, não somente com seu próprio desenvolvimento espiritual, obtido pelo aprimoramento de seus aspectos morais e intelectuais, mas também para com a própria doutrina que afirma professar, uma vez que se torna exemplo e referência.
É fato que nas casas espíritas muito se vive esta situação e assim com o pretexto acima citado para não magoar este ou aquele irmão menos esclarecidos permite-se que as coisas sigam seu curso, mesmo sendo este curso o errado. Ao nos depararmos com algum tipo de incorreção conceitual ou prática destoante dos princípios espíritas, cabe a nós verificarmos a melhor maneira de colaborar com o esclarecimento e superação dos problemas gerados pela situação. Bom senso, coerência e caridade devem estar acima da rispidez e humilhação. Da mesma maneira, o silêncio não deve ser usado caso outras pessoas possam ser prejudicadas por informações que gerem confusão ou posturas inadequadas, sob o risco da tolerância se converter em conivência.
Muita paz e luz / Marcos Valério
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